terça-feira, 16 de novembro de 2010

RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

Postagem no blog -  Porto das Crônicas.

Por Tais Luso de Carvalho

Muito lindo… palavras que dizem muita coisa importante.


Há muito que queria escrever sobre a relação médico-paciente. Sinto-me muito à vontade, uma vez que meus antecedentes (três gerações) eram médicos. Então, sem melindre e sem ofensas aos médicos íntegros e sensíveis, aos médicos com um perfil humanitário e aos médicos que podem servir de exemplo à classe. Quero falar de outro tipo de médico.


Bem, existem médicos que não gostam de ficar respondendo perguntas e dúvidas dos pacientes; não lidam bem com a situação de serem questionados. Por isso e mais um pouco, é que vamos aos consultórios médicos munidos de um arsenal de informações, principalmente obtidas nos sites médicos da Internet. Em geral, os médicos não aceitam intromissão de quem não é médico, acham que não deveríamos questionar: seguir o tratamento dado e pronto. Mas peraí! Não é bem assim que as coisas têm de funcionar! Olhem que século estamos...
Tenho dificuldade em aceitar certas coisas quando eu sou a paciente. Falo, apenas, do atendimento humano, e não do avanço tecnológico da medicina e da excelente técnica e conhecimento de nossos médicos.

Falo de uma coisa a mais: daquele quê que poucos têm.
Técnica é o que não falta, embora existam umas criaturas (como em todas as profissões), que saem da faculdade de salto alto; aquela coisa no gogó; aquela característica que marcam certas pessoas: a vaidade! É o zero à esquerda em qualquer profissional que queira ser reconhecido pela sua capacidade técnica e pelas suas virtudes, como um ser especial.
Já acostumamos com os especialistas específicos e objetivos. É difícil de encontrar um médico que esteja disposto a nos ouvir, como pessoas que estão numa enrascada, e muitas vezes com o espírito em frangalhos. Tratam as doenças; mas esquecem dos pacientes angustiados e frágeis diante do desconhecido. Tratam da tuberculose e não do tuberculoso; tratam da hipertensão e não do hipertenso.


Falo como leiga e como paciente. O paciente precisa ser olhado do ponto de vista físico, psicológico e social. Suas emoções precisam ser levadas em consideração no momento da consulta. Mas alguns médicos ficam impacientes com muitas perguntas; não se deram conta que o paciente ajudará mais em sua cura se sair da ignorância; se forem ouvidos. Por isso tanta gente tentando pesquisar na Internet, entrando em sites de medicina. E no fim se dão mal, pois acham coisas que muitas vezes nada têm a ver com o seu caso. Mas enfim... Não há alternativa.
Não gosto desse processo desumanizador em que a medicina mergulhou. Tudo é máquina; só os exames darão a resposta.

Conheci um médico que disse ao seu paciente - por telefone - que o resultado de seu exame era ruim (especificou o diagnóstico), e que o esperaria em seu consultório para começar o tratamento. Eu presenciei a reação deste paciente!! Este paciente era o meu pai, e não foi tratado com o zelo que deveria ser tratado numa hora tão difícil. Não tem perdão para médicos que venham a agir sem humanidade, seja pela rede pública, seja por qualquer convênio ou mesmo particular.


E, também, não vejo com bons olhos certos profissionais que se atrevem a dar um tempo de vida a um paciente. Segundo um trabalho publicado no ‘British Medical Journal’, 85% desta previsão dá errado. Para que servirá esta maldita previsão? Para deixar tudo arrumadinho? Tenho como exemplo o pai de um amigo da família, que aos 44 anos recebeu o conselho do seu médico cardiologista para que arrumasse sua vida e documentos, pois não viveria mais que seis meses; seguiu os conselhos, mas só morreu quarenta anos depois. E de enfisema pulmonar.


Empatia e confiança entre médico e paciente são fundamentais. E quando não há, está mais do que no momento de trocar de profissional. Esperar e tentar para ver se as coisas tomam outro rumo é perder tempo, é dar asas à doença. Mas a escolha é nossa.


Depois, restam apenas lágrimas e um médico ausente...

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